QUESTIONÁRIO DE MANIFESTAÇÕES FÍSICAS DE MAL ESTAR[1]

José Luis Pais Ribeiro

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

 

O objectivo da construção do Questionário de Manifestações Físicas de Mal Estar (QMFME) foi de desenvolver uma lista de manifestações físicas susceptíveis de exprimir mal-estar em indivíduos que não padecem de qualquer doença. A utilização privilegiada deste instrumento é a investigação.

Para além desta função descritiva poderá ser usado como forma de rastreio na avaliação de perturbações somatoformes ou outras. Assim, no âmbito de um rastreio, na ausência de explicações para valores elevados, inesperados ou estranhos, de manifestações físicas, que exprimam mal estar, os sujeitos deverão ser referidos para diagnóstico no sistema de cuidados de saúde.

Reus (1998) refere 5% de prevalência de queixas somáticas na população, com o início antes dos 30 anos e sendo persistente.

O mal-estar físico exprime que algo vai mal com o indivíduo. Este pode corresponder a sintomas de alguma patologia que uma vez curada desaparecem, pode ser expressão de pressão da vida do dia a dia ou de acontecimentos de vida, pode ser manifestações de preocupações pessoais, de qualquer característica de personalidade, etc.

Se no início essas manifestações são passageiras elas podem, com o passar do tempo, com a repetição do fenómeno, tornar-se, por si próprias, fontes de stress e gerar, por sua vez, ou acentuar novas manifestações de mal-estar.

Têm sido desenvolvidos questionários de avaliação de sintomas. Um dos mais conhecidos é o Symptom Checklist (SCL) de 90 itens. Este é um dos vários questionários que se propõem avaliar sintomas (embora não dominantemente somatoformes). A versão de 90 itens desenvolvida por Derogatis, Rickels e Rock (1977) é a mais conhecida embora existam versões reduzidas de 58 e 35 itens. A mais recente desenvolvida pelos mesmos autores é conhecida como Brief Symptom Inventory e inclui 53 itens. O SCL é constituído por itens que, com base na opinião clínica, reflectem sintomas primários que estão subjacentes à maioria das perturbações psiquiátricas. Trata-se de uma escala que apresenta correlações entre 0,40 e 0,75 com o Minnesota Multiphasic Personality Inventory (MMPI). Trata-se, portanto, de um instrumento desenvolvido para o domínio da psicopatologia.

O QMFME, que vai ser apresentado neste estudo, baseia-se no Psychosomatic Symptom Checklist (SUNYA) (Attanasio, Andrasik, Blanchard, & Arena, 1984). Este questionário é também conhecido por SUNYA, devido ao facto de a população que serviu de base ao estabelecimento das propriedades métricas do questionário ser estudante de SUNY em Albany, New York.

O questionário desenvolvido por estes autores, é uma escala de auto-resposta que contém 17 itens, cada um descrevendo queixas psicossomáticas ou somatoformes usuais. Os indivíduos devem responder a cada item de duas maneiras distintas: quanto à frequência com que experimentam a ocorrência e quanto à intensidade. Produz-se assim uma nota composta, resultante da soma do produto da frequência pela intensidade.

A versão do questionário referido baseia-se por sua vez, e mais especificamente, na produzida por Cox, Freundlich e Meyer (1975): foi construída com base numa amostra de uma população estudantil que, numa avaliação de rastreio preliminar, não apresentava perturbações psicossomáticas. Este estudo foi o primeiro a estabelecer as propriedades psicométricas do questionário. O mesmo questionário, passado a populações sofrendo de doenças crónicas não manifesta as mesmas propriedades métricas (Chibnall & Tait, 1989), pelo que, em populações deste tipo, deve ser usado com prudência .

À versão utilizada no presente estudo foram acrescentados itens provenientes da escala de Physical Simptoms de Mechanic e Hansell (1987). Esta lista de sintomas foi desenvolvida por Mechanic (1980) como indicador de bem-estar, e incluía as queixas físicas mais frequentes. A lista de Mechanic e Hansell contém 12 itens dos quais cinco são partilhados pelo SUNYA. Os sete itens não comuns foram acrescentadas ao questionário utilizado no estudo apresentado aqui. A escala ficou, então, com 24 itens que, após análise do estudo piloto, ficou reduzida a 19 (ver anexo).

Dos itens retirados após o estudo piloto quatro pertenciam à lista de sintomas físicos pelo que somente permaneceram três da lista original de Mechanic (1980), mais 16 da lista original de Attanasio et al. (1984).

Os itens do QMFME são ”correlatos” ao invés de "indícios" ou "amostras" de comportamento (Ribeiro, 1999), o seja, as pessoas que dão estas respostas possuem determinadas características que devem ser estudadas. Se fossem indícios elas evidenciariam determinada característica da personalidade, o que não é o caso. Se fossem amostras seria a própria resposta que deveria ser tratada.

Tipo de resposta

Os indivíduos respondem, assinalando numa escala de seis pontos para a frequência (5- ocorre diariamente; 4- ocorre várias vezes por semana; 3- ocorre cerca de uma vez por semana; 2- ocorre cerca de uma vez por mês; 1- ocorre menos de uma vez por mês; 0-nunca ocorre), e numa de cinco para a intensidade (4- é extremamente incómodo quando ocorre; 3- muito incómodo quando ocorre; 2- moderadamente incómodo quando ocorre; 1- ligeiramente incómodo quando ocorre; 0- não é problema).

A noção de sintomas psicossomáticos desapareceu do Diagnostic and Statistical Manual (DSM) devido à conotação que a teoria psicossomática tinha com as teorias psicanalíticas. Foi substituída pela noção de perturbações somatoformes. Segundo o DSM IV as perturbações somatoformes caracterizam-se pela presença de sintomas físicos ou perturbações corporais inexplicáveis. No DSM IV as perturbações de somatização implicam, entre outros: quatro sintomas de dor relacionados com quatro regiões ou funções diferentes; dois sintomas gastrointestinais que não sejam dor (como náusea, diarreia, ou vómitos); um sintoma sexual (como indiferença sexual, ou disfunção ejaculatória); um sintoma pseudoneurológico que não seja dor (como afonia, dificuldade de coordenação ou de equilíbrio).

Cotação

A cotação faz-se em duas fases.

1- Primeiro multiplica-se a frequência de um sintoma pela intensidade desse sintoma

Se, por exemplo, para o sintoma de frequência de 1 (SF1), o respondente assinalava na posição 3 (ocorre cerca de uma vez por semana), e na posição 2 para a intensidade da ocorrência (SI1) (moderadamente incómodo quando ocorre), o resultado total (ST) para o sintoma ST1 seria igual a 6 (3X2=6).

2- Em segundo lugar somam-se os itens de cada uma das dimensões (a estrutura dimensional será descrita a seguir) para obter a nota de cada dimensão, e somam-se a totalidade dos itens para obter a nota total da escala. Valores mais elevados, quer por dimensão quer no total, significa mais mal-estar.

Se se pretender organizar um perfil de somatização, então às operações anteriores uma terceira operação. Deve-se dividir o resultado da soma pelo número de itens que compõem cada dimensão, ou seja por 6, por 5 ou por quatro, consoante a dimensão em jogo. Deste modo é possível comparar a nota das diversas dimensões para identificar ou descrever a que é dominante no indivíduo.

 

Dimensionalidade da escala

Para identificar a dimensionalidade da escala procedeu-se à Análise de Componentes Principais. Segundo Dawis (1987) e Tabachnick e Fidell, 1996, a Análise de Componentes Principais é a solução ideal como primeira abordagem da análise factorial. A análise factorial é um método que visa facilitar a interpretação de um conjunto de dados: perante um conjunto N de itens. Verifica as intercorrelações supondo que estão presentes um conjunto de variáveis latentes, ou factores comuns, aos quais deverá ser atribuído significado. Chega-se assim a um número mínimo de conceitos (factores) que explicam maximamente a variância comum. Estes factores construtos hipotéticos, ou teorias dão sentido, e ajudam a interpretar os dados.

A análise factorial utilizada para explorar e definir o QMFME aponta para quatro grandes tipos de manifestações ou de sintomas, que parem expressar-se através de diferentes sistemas orgânicos, denominados de, “Sistema Nervoso”, que inclui itens que exprimem a manifestação de sintomas físicos como "fadiga"; “Sistema Respiratório” que inclui itens que exprimem a manifestação de sintomas como "dores de garganta" ou "tosse"; “Sistema Muscular” que inclui itens como "dores nas costas" e; “Sistema Digestivo” que inclui itens como "dores de estômago".

Objectivo do estudo

O objectivo do presente estudo é construir uma escala de quantificação de sintomas somatoformes que sejam susceptíveis de expressar mal-estar físico.

Método

O estudo de adaptação passou por vários momentos a) tradução e adaptação lexical e funcional do questionário, b) exploração cognitiva, c) construção da forma final, d) estudo piloto, e) análise dos resultados do estudo piloto, f) construção da versão final, g) passagem à amostra grande.

Participantes

Os participantes constituem uma amostra de conveniência tanto no estudo piloto como no estudo final.

Estudo piloto - 128 sujeitos preencheram o questionário: 108 indivíduos (85%) eram do sexo feminino e 19 (15%) do masculino; a idade média dos indivíduos do sexo feminino era de 22,53 anos ± 0,23 (entre 18 e 30); a idade média dos indivíduos do sexo masculino era de 23,78 anos ± 2,65 (entre 20 e 30);

Estudo final- Participaram 609 pessoas. A amostra de respondentes era constituída por 47% de indivíduos do sexo masculino (idade M= 19,99 DP=3,87; entre 16 e 41 anos ) e 53% do sexo feminino (idade M= 19,79 DP= 3,09; entre 16 e 30 anos de idade).

 

Material do estudo piloto

O questionário do estudo piloto incluía 24 itens que expressavam manifestações comuns de mal-estar.

Durante o estudo piloto foi realizada uma análise preliminar da distribuição das respostas a cada item. A análise realizada visou identificar os itens que não tinham uma função discriminativa, para depois os retirar do inventário. contribuem para uma nota total, de tal modo que, um item que receba como resposta "nunca ocorre" pela quase totalidade da amostra não tem nenhuma função no questionário. Retirar estes itens torna o questionário mais pequeno, um dos objectivos do tratamento do questionário realizado no estudo piloto.

Após esta análise foram retirados 5 itens que, segundo a amostra do estudo piloto, nunca ocorriam respectivamente em 98, 96, 92, 98 e 91% da população. Quando se inspeccionava a segunda alternativa de resposta (ocorria menos de uma vez por mês) a percentagem passava a 99, 98, 98, 100 e 98%. Ou seja decidiu-se que tão baixa prevalência de manifestações destes itens eles eram redundantes.

O questionário ficou, assim, reduzido a 19 itens. Dos cinco itens retirados quatro pertenciam ao Physical Simptoms de Mechanic e Hansell (1987) e um ao Psychosomatic Symptom Checklist (PSC) de Attanasio, Andrasik, Blanchard, e Arena, (1984).

Para analisar a organização das manifestações físicas de mal-estar, procedeu-se (como se referiu acima) à ACP. A solução factorial encontrada explicava 47,01% da variância e encontrou quatro factores, cuja carga factorial é apresentada no quadro 1. O primeiro factor explica 26,6% da variância total e 56,47 da comum, o segundo 8,9 e 19,26, o terceiro 6,0 e 15,94, e o quarto 5,6 e 12,27.

Os factores parecem agrupar itens que caracterizam os diversos sistemas corporais: Sistema Nervoso, Sistema Respiratório, Sistema Muscular e Sistema Digestivo. A consistência interna (Alfa de Cronbach) dos diversos factores é a seguinte: para factor Sistema Nervoso o valor da consistência interna é alfa=0,80; para o factor Sistema Respiratório, alfa= 0,55; para o factor Sistema Muscular, alfa=0,60; para o factor Sistema Digestivo, alfa=0,58. O Alfa de Cronbach para a escala total é de alfa=0,83. O quadro 1 sumaria os resultados da análise factorial.

 

QUADRO 1- Carga factorial dos itens

itens

SN

SR

SM

SD

ST6

0,75

 

 

 

ST8

0,73

 

 

 

ST5

0,69

 

 

 

ST4

0,64

 

 

 

ST9

0,60

 

 

 

ST13

0,52

 

 

 

ST19

 

0,75

 

 

ST17

 

0,61

 

 

ST16

 

0,56

 

 

ST15

 

0,48

(0,44)

 

ST18

 

0.44

 

 

ST2

 

 

0,72

 

ST10

 

 

0,54

 

ST14

 

 

0,50

 

ST1

 

 

0,41

 

ST7

 

 

 

0,68

ST11

 

 

 

0,61

ST3

 

 

(0,43)

0,58

ST12

(0,44)

 

 

0,48

eigenvalue

5,05

1,68

1,14

1,06

% variância

26,60

8,90

6,01

5,60

SN-manifestações de mal-estar do tipo geral; SR- manifestações de mal-estar a nível do sistema respiratório; SM-manifestações de mal-estar a nível do sistema muscular; SD-manifestações de mal-estar a nível do sistema digestivo.

 

No quadro incluíram-se somente os itens com carga factorial acima de 0,40. Dois itens apresentam carga factorial acima de 0,40 noutros dois factores (itens 12 e 15).

Embora os itens do questionário tenham sido considerados como "correlatos", cada um por si também pode ser considerado "amostra". Por esta razão não será retirado nenhum item.

A correlação entre os factores do questionário de manifestações físicas de mal-estar é apresentada no quadro 2.

 

QUADRO 2- Correlação entre a escala total e as sub-escalas do questionário de manifestações físicas de mal-estar

 

 

ETOTAL

SN

SR

SM

SD

SN

0,75

-

0,28

0,52

0,52

SR

0,56

 

 

0,36

0,28

SM

0,73

 

 

 

0,46

SD

0,65

 

 

 

 

 

ETOTAL- nota da escala total; SN-manifestações de mal-estar do tipo geral; SR- manifestações de mal-estar a nível do sistema respiratório; SM-manifestações de mal-estar a nível do sistema muscular; SD-manifestações de mal-estar a nível do sistema digestivo.                  

 

A análise do quadro anterior mostra que a dimensão que explica melhor a variância da escala total é a dimensão “sistema nervoso”, seguida do “sistema muscular”, a primeira explicando cerca de 70% da variância total e a segunda explicando cerca de 60% dessa variância.

Inspecção da redundância

A correlação entre os itens que compõem cada uma das quatro dimensões do questionário permite identificar a existência de redundância. Esta define-se pela existência de dois itens que medem exactamente a mesma coisa e que têm o mesmo conteúdo. Redundância máxima seria incluir dois itens com a mesma formulação.

Assumimos como critério de redundância uma correlação entre dois itens superior a 0,90. Um valor deste tipo é susceptível de falsificar os resultados totais do questionário.

Quando encontramos tal valor a) inspeccionamos o enunciado dos dois itens, b)se o enunciado for semelhante como sugere a correlação elevada, um deles deverá ser retirado.

O critério para decidir qual o item a retirar baseia-se a) na inspecção lexical (ou do conteúdo) dos itens, b) na distribuição das respostas que deve ser feita pela totalidade das possibilidades de resposta, c) na verificação da normalidade da distribuição com um teste do tipo Kolmogorov-Smirnov, d) na correlação do item com cada um dos outros da dimensão a que pertence, e) na análise da correlação com a soma dos itens da dimensão a que ele pertendce (ele excluído dessa soma) (validade convergente), f) na comparação do valor anterior com a correlação com as restantes dimensões ou sub-escalas que compõem o teste (validade discriminante).

Consoante estes resultados assim se decidirá qual o item a retirar. Nos quadros seguintes mostram-se os valores de redundância.

O quadro 3 mostra a correlação inter itens da dimensão “Sistema Nervoso”

 

Quadro 3- Correlação entre itens da dimensão “sistema nervoso”

 

ST4

ST5

ST6

ST8

ST9

ST13

ST4

-

0,37

0,38

0,37

0,33

0,20

ST5

 

 

0,52

0,53

0,29

0,52

ST6

 

 

 

0,56

0,34

0,40

ST8

 

 

 

 

0,41

0,42

ST9

 

 

 

 

 

0,30

ST13

 

 

 

 

 

-

ST- itens da dimensão sistema nervoso

A inspecção do quadro mostra que as correlações entre os itens da dimensão “Sistema Nervoso” são moderadas.

O quadro 4 mostra a correlação inter itens da dimensão “Sistema Respiratório”

 

Quadro 4- Correlação entre itens da dimensão “Sistema Respiratório”

 

ST15

ST16

ST17

ST18

ST19

ST15

-

0,33

0,12

0,16

0,31

ST16

 

 

0,20

0,11

0,30

ST17

 

 

 

0,12

0,32

ST18

 

 

 

 

0,22

ST19

 

 

 

 

 

ST- itens da dimensão Sistema Respiratório

 

A inspecção do quadro mostra que as correlações entre os itens da dimensão “Sistema Respiratório” são moderadas a baixas, principalmente os itens 17 e 18, o que pode recomendar em aperfeiçoamentos futuros a revisão destes itens.

O quadro 5 mostra a correlação inter itens da dimensão “Sistema Muscular”

 

Quadro 5- Correlação entre itens da dimensão “Sistema Muscular”

 

ST1

ST2

ST10

ST14

ST1

-

0,25

0,34

0,14

ST2

 

 

0,31

0,29

ST10

 

 

 

0,29

ST14

 

 

 

-

ST- itens da dimensão Sistema Muscular

 

A inspecção do quadro mostra que as correlações entre os itens da dimensão “Sistema Muscular” são moderadas a baixas.

O quadro 6 mostra a correlação inter itens da dimensão “Sistema Digestivo”

 

Quadro 6- Correlação entre itens da dimensão “Sistema Digestivo”

 

ST3

ST7

ST11

ST12

ST3

-

0,25

0,25

0,20

ST7

 

 

0,25

0,33

ST11

 

 

 

0,30

ST12

 

 

 

-

ST- itens da dimensão Sistema Digestivo

 

A inspecção do quadro mostra que as correlações entre os itens da dimensão “Sistema Digestivo” são moderadas a baixas.

Em conclusão, a análise da redundância dos itens não mostra a existência de itens sobrepostos. O que se verifica, pelo contrário, é a tendência para correlações baixas o que já se tinha deduzido pela análise dos coeficientes de consistência interna. No entanto, pelo facto de, formalmente, os itens serem considerados amostras de comportamento em vez de indícios, diminui a necessidade da existência de valores de consistência interna elevados.

 

Validade

A validade de um teste é a propriedade que garante que o teste mede os aspectos que se propõe medir. Neste caso explorámos a validade de conteúdo e a validade de construto.
Validade de conteúdo

A validade de conteúdo evidencia que o conteúdo dos itens avaliam os domínios que se propõem. Ela é, basicamente, um julgamento e o modo mais usual de identificar a análise de conteúdo é através do juízo de vários especialistas. Ora, como o teste já existia a validade de conteúdo foi realizada pelo autor em duas fases. Numa primeira fase através da tradução do item e da comparação com a versão traduzida, simultaneamente, com a versão original e com o conteúdo que era suposto o item medir. Numa Segunda fase pedindo a juizes que verificassem o conteúdo de cada item com o que era suposto medir. Chegou-se assim a uma versão de consenso

Validade convergente-discriminante dos itens

Este tipo de validade é um indicador de que o item mede o mesmo construto da sub-escala ou dimensão a que pertence e não o construto de outra dimensão do mesmo teste. Assim é esperado que um item pertencente a uma das dimensões – por exemplo ao “sistema nervoso” - tenha uma correlação com a soma dos restantes itens que compõem essa dimensão maior do que a correlação com as restantes dimensões. A magnitude dessa diferença deverá ser superior a 15 pontos.

O quadro 7 mostra a correlação dos itens da dimensão “Sistema Nervoso” com cada uma das dimensões (salienta-se que a correlação com a dimensão a que pertence não o inclui a ele próprio na soma da nota dessa dimensão)

 

Quadro 7- correlação dos itens da dimensão “Sistema Nervoso” com cada uma das dimensões (corrigido para sobreposição).

       Dimensão

   itens

Sistema nervoso

Sistema respiratório

Sistema muscular

Sistema digestivo

ST4

0,45

0,13

0,28

0,25

ST5

0,64

0,31

0,48

0,37

ST6

0,63

0,16

0,32

0,39

ST8

0,66

0,21

0,41

0,43

ST9

0,45

0,12

0,29

0,28

ST13

0,51

0,25

0,44

0,47

 

A inspecção dos resultados mostra que todos os itens exibem uma correlação com uma diferença substancial entre a soma dos itens da dimensão a que pertence e as restantes dimensões.

 

O quadro 8 mostra a correlação dos itens da dimensão “Sistema Respiratório” com cada uma das dimensões (a correlação com a dimensão a que pertence não o inclui a ele próprio na soma da nota dessa dimensão)

 

Quadro 8- correlação dos itens da dimensão “Sistema Respiratório” com cada uma das dimensões (corrigido para sobreposição)..

       Dimensão

   itens

Sistema Nervoso

Sistema Respiratório

Sistema Muscular

Sistema Digestivo

ST15

0,22

0,35

0,29

0,22

ST16

0,19

0,34

0,24

0,21

ST17

0,11

0,29

0,17

0,13

ST18

0,18

0,23

0,19

0,17

ST19

0,17

0,45

0,23

0,16

 

A inspecção dos resultados mostra que todos os itens exibem uma correlação com uma diferença substancial entre a soma dos itens da dimensão a que pertence e as restantes dimensões, com excepção do item 18 que evidencia uma magnitude menor.

O quadro 9 mostra a correlação dos itens da dimensão “Sistema Muscular” com cada uma das dimensões (a correlação com a dimensão a que pertence não o inclui a ele próprio na soma da nota dessa dimensão)

 

Quadro 9- correlação dos itens da dimensão “Sistema Muscular” com cada uma das dimensões (corrigido para sobreposição)..

       Dimensão

   itens

Sistema Nervoso

Sistema Respiratório

Sistema Muscular

Sistema Digestivo

ST1

0,41

0,18

0,35

0,31

ST2

0,31

0,19

0,40

0,29

ST10

0,37

0,28

0,45

0,36

ST14

0,32

0,21

0,34

0,25

 

A inspecção dos resultados mostra que o item 1 não satisfaz o critério de que deveria ter uma correlação mais elevada com a soma dos restantes itens que compõem a dimensão a que pertence, do que com as restantes dimensões, e que o item 14 tem fraco poder discriminativo com a dimensão “Sistema Nervoso”. Esta escala é fraca o que já se tinha evidenciado pela análise da consistência interna que exibia um valor de alfa de 0,60. Na análise de componentes principais com rotação varimax a magnitude da carga factorial do item 1 com as dimensões “Sistema Nervoso” e “Sistema Muscular” eram muito semelhantes, respectivamente de 0,39 e 0,41.

O quadro 10 mostra a correlação dos itens da dimensão “Sistema Digestivo” com cada uma das dimensões (salienta-se que a correlação com a dimensão a que pertence não o inclui a ele próprio na soma da nota dessa dimensão)

 

Quadro 10- correlação dos itens da dimensão “Sistema Digestivo” com cada uma das dimensões (corrigido para sobreposição)..

       Dimensão

   itens

Sistema Nervoso

Sistema Respiratório

Sistema Muscular

Sistema Digestivo

ST3

0,24

0,11

0,30

0,32

ST7

0,35

0,22

0,26

0,39

ST11

0,32

0,21

0,27

0,37

ST12

0,51

0,21

0,40

0,38

 

A inspecção dos resultados mostra que o item 12 não satisfaz o critério de que deveria ter uma correlação mais elevada com a soma dos restantes itens que compõem a dimensão a que pertence, do que com as restantes dimensões, e que o item 3 tem fraco poder discriminativo com a dimensão “Sistema Muscular”.

Em conclusão pode-se dizer que a QMFME, tem uma validade convergente discriminante aceitável como teste de rastreio. Dois dos 19 itens poderiam pertencer a outras dimensões.

Validade de construto

A validade de construto é a validade nobre de qualquer teste. É ela que garante que o teste mede o que se propõe medir. A validade convergente-divergente realizada antes já fornece pistas sobre a organização do teste, e sobre cada uma das dimensões do teste, mas não sobre a relação entre o teste como um todo e outros testes.

Para validar o QMFME inspeccionámos a sua correlação com outras dimensões tanto positivas como negativas, a saber: O quadro 11 sumaria as correlações entre as quatro dimensões do QMFME (Sistema Digestivo-SD, Sistema Muscular -SM, Sistema Nervoso-SN, e Sistema Respiratório-SR) e o total STT, e as seguintes escalas: Auto-Conceito, Acontecimentos de Vida, Auto Eficácia Geral, Saúde Mental, Percepção Geral de Saúde, Percepção de Suporte Social Geral.

 

Quadro 11- correlação entre o QMFME e as dimensões psicológicas referidas

 

AC

ACON-V

AE

MHI

PGS

SSOCIAL

SD

-0,24

0,18

-0,25

-0,37

-0,34

-0,27

SM

-0,20

0,14**

-0,17

-0,29

-0,38

-0,23

SN

-0,35

0,20

-0,34

-0,61

-0,46

-0,35

SR

-0,14

0,19

-0,13**

-0,17

-0,23

-0,04*

STT

-0,30

0,25

-0,31

-0,49

-0,43

-0,30

* p <0,05; **p<0,01; para todos os não assinalados p<0,0001

SD-Sistema Digestivo; SM-, Sistema Muscular; SN-, Sistema Nervoso; SR- Sistema Respiratório; STT- Mal-Estar Total

AC-Auto-Conceito; ACON-V-Acontecimentos de Vida; AE- Auto Eficácia Geral; MHI-Saúde Mental; PGS- Percepção Geral de Saúde; SSOCIAL Percepção de Suporte Social Geral

 

A inspecção da matriz de correlações mostra correlações moderadas a baixas entre a maioria das dimensões, o que aponta para a especificidade desta medida.

O sentido das correlações é o esperado, ou seja, mais acontecimentos stressantes mais mal estar para todas as dimensões do QMFME, enquanto maior Auto-Conceito, maior Auto-eficácia, mais Saúde Mental, melhor Percepção Geral de Saúde, maior Percepção de Suporte Social, menos sintomas de Mal Estar.

A correlação entre as manifestações designadas como do Sistema Nervoso, são as que exibem correlação mais elevada com a Saúde Mental.

Em conclusão, a escala apresentada - QMFME- apresenta boas propriedades que justificam a sua utilização no campo da saúde.

 

REFERÊNCIAS

Attanasio, V., Andrasik, F., Blanchard, E., & Arena, J.(1984). Psychometric propreties of SUNYA revision of the Psychosomatic Symptom Checklist. Journal of Behavioral Medicine, 7 (2), 247-257.

Chibnall, J. & Tait, R. (1989). The psychosomatic symptom checklist revisited: reliability and validity in chronic pain population. Journal of Behavioral Medicine, 12 (3), 297-307.

Cox, D., Freundlich, A., & Meyer, R. (1975). Differential effectiveness of electromyograph feedback, verbal relaxation instructions, and medication placebo with tension headachs. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 43(6), 892-898.

Dawis, R.V. (1987). Scale construction. Journal of Counseling Psychology, 34(4),481-489.

Derogatis, L., Rickels, K., & Rock, A. (1977). The SCL-90-R: Administration, scoring and procedures Manual, I. Baltimore, MD: Clinical Psychometric Research.

Mechanic, D. (1980) The experience and reporting of common physical complaints. Journal of Health and Social Behavior, 21,146-155

Mechanic, D., & Hansell, S. (1987). Adolescent competence, psychological well-being, and self-assessed physical health. Journal of Health and Social Behavior, 28, 364-374.

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Ribeiro, J.L. (1999). Investigação e avaliação em psicologia e saúde. Lisboa: Climepsi.

Tabachnick, B.G., & Fidell, L.S. (1989). Using multivariate statistics (2nd. Edt.) New York: Harper & Row, Publishers.


COMO ME COSTUMO SENTIR FISICAMENTE

 

Abaixo encontra um conjunto de sintomas que muitas pessoas sentem com frequência na sua vida do dia-a-dia. Assinale a frequência e a intensidade com que esses sintomas o afectam de acordo com a escala que apresentamos de seguida:

 

Valor de Frequência                                                                Valor de Intensidade

5

Ocorre diariamente

 

4

É extremamente incómodo quando ocorre

4

Ocorre várias vezes por semana

 

3

Muito incómodo quando ocorre

3

Ocorre cerca de uma vez por semana

 

2

Moderadamente incómodo quando ocorre

2

Ocorre cerca de uma vez por mês

 

1

Ligeiramente incómodo quando ocorre

1

Ocorre menos de uma vez por mês

 

0

Não é problema

0

Nunca ocorre

 

 

 

 

 

 

Valor de

Frequência

Valor de

Intensidade

1-Dor de Cabeça

 

 

2-Dor nas Costas

 

 

3-Dores no Estômago

 

 

4-Insónia

 

 

5-Fadiga

 

 

6-Depressão

 

 

7-Enjoo

 

 

8-Tensão Geral

 

 

9-Palpitações Cardíacas

 

 

10-Dores nos Olhos associadas à Leitura

 

 

11-Diarreia ou Prisão de Ventre

 

 

12-Tonturas

 

 

13-Fraqueza

 

 

14- Dores Musculares

 

 

15- Dores de Garganta

 

 

16- Tosse

 

 

17- Alergias

 

 

18- Acne ou Borbulhas

 

 

19- Nariz Tapado

 

 

 

OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO



[1] Texto em preparação para publicação